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VOCÊ É MACUMBEIRO?

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda


VOCÊ É MACUMBEIRO?

Difícil encontrar um adepto da Umbanda ou Candomblé que não tenha tido que responder a essa pergunta. Muitos inclusive, se ofendem, e com razão, pois a pergunta vem carregada de preconceito e discriminação. Já no meio em que vivem os adeptos das religiões de matriz africana, tratarem-se dessa forma, é normal, pois sabem perfeitamente o que significa ser macumbeiro.

Existem vários estudos sobre a origem da palavra macumba, dentre eles, citaremos alguns:

1-Árvore da família da famosa jequitibá, considerada sagrada para o povo africano. De sua madeira se produz um instrumento de percussão, que leva o mesmo nome. Este instrumento é semelhante ao reco-reco, e que era muito usado nos rituais de adoração aos Orixás, que eram feitos sob a copa desta árvore. No entanto, muito além dessas definições, a macumba é sim um culto, uma forma bem similar às práticas da Umbanda atual. Pra que a gente entenda melhor, vamos lá: logo após a abolição da escravidão, bem sabemos que a maioria dos negros ficaram sem emprego e consequentemente sem comida e lugar para viver. Daí, a única coisa que tinham para superarem tanta miséria era usar seus conhecimentos de magia, para atenderem aos interesses dos homens e mulheres brancos, que os procuravam para pedir todo tipo de magia, pagando com altas quantias pelos trabalhos realizados. Esses trabalhos de magia, tinham várias finalidades: cura de doenças, amarrações, vinganças, pedidos de proteção, melhorias nas plantações e colheitas, livramento de pragas e doenças em suas plantações e criações de animais, sorte em jogos de azar, brigas por disputa de terras, e uma infinidade de magias que os negros manipulavam com muita astúcia e sabedoria.

Dentre vários significados da macumba, considerando a diversidade da língua banto, Nei Lopes, profundo conhecedor do assunto e autor do dicionário banto do Brasil, afirma que kumba vem do quicongo e significa feiticeiro e o prefixo ma, forma o plural, ou seja: macumba, a reunião de feiticeiros.

Já o grande filósofo e etimólogo Antenor Nascentes, afirma que macumba vem do quimbundo dikumba, que significa cadeado ou fechadura, fazendo alusão aqui aos rituais secretos de fechamento de corpo.

Logo, macumba pode designar um instrumento, uma árvore, como também uma cerimônia religiosa.

“Macumbeiro: definição de caráter brincante e político que subverte sentidos preconceituosos atribuídos de todos os lados ao termo repudiado e admite as impurezas, contradições e rasuras como fundantes de uma maneira encantada de encarar e ler o mundo no alargamento das gramáticas. O macumbeiro reconhece a plenitude da beleza, da sofisticação e da alteridade entre as gentes. A expressão ‘macumba’ vem muito provavelmente do quicongo kumba, ‘feiticeiro’. Kumba também designa os encantadores das palavras, poetas. Macumba seria, então, a terra dos poetas do feitiço; os encantadores de corpos e palavras que podem fustigar e atazanar a razão intransigente e propor maneiras plurais de reexistência e “descacetamento” urgente pela radicalidade do encanto, em meio às doenças geradas pela retidão castradora do mundo como experiência singular de morte.” Luiz Antonio Simas -Rio de Janeiro, 1967 é um historiador que se dedica sobre tudo às culturas populares do Brasil. É autor de, entre outros livros, O corpo encantado das ruas (Civilização Brasileira, 2019), Dicionário de história social do samba (José Olympio, 2015), com Nei Lopes, e Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas, com Luiz Rufino (Mórula, 2018).

Vocês então, podem imaginar as reações das igrejas predominantes da época. Trataram logo de demonizar a macumba e a perseguirem seus seguidores, expondo-os a todo tipo de escárnio e torturas.

Não adiantou, os macumbeiros continuam vivos e praticando seus ritos.

Entendam que ser macumbeiro é ser feliz, é carregar em si uma força que incomoda aos hipócritas e infelizes, é ser livre para decidir sobre sua vida, assumindo as consequências de seus atos.

Ser macumbeiro é fazer o bem, e não permitir que lhe façam mal. É se proteger através da dança, das palmas, da fumaça do defumador, do charuto dos Caboclos e Exus. É se sentir abençoado ao beijar a mão de um Preto Velho, ao abraçar um Caboclo, ao brincar com uma criança, ao receber uma rosa da Pomba Gira, ao beber um gole da marafo do Boiadeiro e do Baiano.

Ser Umbandista, é ser macumbeiro sim! Afinal, nossa religião veio por eles, o povo banto, arrancado da Angola e outros países da África, e temos a obrigação de respeitar a história de sacrifícios e martírios que viveram, para que hoje possamos cultuar nossa fé com liberdade e respeito. Temos em nossa formação, o legado de um povo conhecedor dos mistérios de Deus, e que através desses conhecimentos, possibilitaram o surgimento da Umbanda, uma religião que é anunciada em novembro de 1908, através do Caboclo das Sete Encruzilhadas, incorporado no médium de 17 anos de idade, Zélio Fernandino de Moraes. Na realidade, a Umbanda continua sendo macumba. Considerando, que a Igreja Católica, à época, não deu nenhum acolhimento aos negros libertos, a Umbanda, já no século XX, surge não só para acolher essas pessoas, mas também para dar legitimidade ao seu culto. Lembrando aqui, que Zélio era um rapaz branco, de família tradicional católica e respeitada de classe média e com influência Espírita, o que facilitou a aceitação de grande parte da sociedade e das autoridades.

A Umbanda, é antes de tudo, respeito e honra à memória dos nossos antepassados. E pra isso, devemos viver de acordo com aquilo que aprendemos com eles: luta, verdade, determinação, coragem e amor pela vida em toda sua extensão.

É certo que ainda existe muito preconceito em relação a este tema, inclusive no próprio meio umbandista. Acredito, que por conta da falta de conhecimento, ainda associam macumba, a tudo que é do mal. Ledo engano!

Quem é filho da macumba, macumbeiro é, e merece respeito! Vivemos num país onde a liberdade de culto nos é garantida, e devemos lutar com determinação e dignidade, para que todo sacrifício dos nossos macumbeiros, não tenha sido em vão.

Saravá Umbanda!

Saravá Macumba!

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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