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DE EXU A OXALÁ: O USO DA CANJICA NA UMBANDA

  • Foto do escritor: Luiz de Miranda
    Luiz de Miranda
  • há 12 minutos
  • 2 min de leitura
Oferenda para Oxalá, com tijela com canjica, um copo com água e uma vela de 7 dias branca

Seu nome é de origem tupi-guarani: "acanjic" ou "cangica". Tendo como significado: milho triturado. Na língua iorubá, chama-se de égbó: a grande oferenda a Oxalá.

Quando em grãos brancos, é usado nas obrigações de limpeza, purificação, equilíbrio mental e emocional, e ainda, para afastar energias negativas. Nas obrigações de Camarinha, a canjica não pode faltar, pois é através dela que se busca fortalecer a ligação do médium com seu Orixá. Tendo a mesma finalidade, o manjar, oferenda principal de Mãe Iemanjá. Lembrando aqui, Iemanjá a Grande Mãe (manjar) e Oxalá o Grande Pai (canjica). Esses dois Orixás têm que estar presentes nas obrigações iniciais dos filhos de Santo.

Com a água do cozimento da canjica, prepara-se um poderoso banho de limpeza e fortalecimento, ajudando muito no equilíbrio das energias do corpo e do espírito. Para preparar esse banho, faça o seguinte: junte 250 gr de milho de canjica e dois litros de água. Coloque numa panela de pressão e cozinhe por uns 30 minutos. Após esse tempo, coe essa canjica, reservando a água do cozimento. Caso queira, pode acrescentar um pouco de água de flor de laranjeira, que vai trazer tranquilidade, ajudando a combater o estresse. Depois de tomar seu banho de higiene, jogue essa água de canjica da cabeça aos pés, fazendo seus pedidos ao Pai Oxalá. O restante da canjica que sobrou, coloque numa vasilha e misture com um pouco de mel, azeite de oliva e um pouco de banha de ori derretida. Depois de misturar, faça uma pequena cavidade no meio da canjica e coloque ali, semente de girassol descascada e socada, um obi ralado e mel. Cubra tudo com algodão. Coloque num lugar alto da sua casa e ofereça ao Senhor da vida, nosso Pai Oxalá. Deixe por três dias. Passado esse tempo, coloque tudo (menos a tijela) numa sacola e ponha no lixo.

O algodão, tem um simbolismo muito forte nas obrigações de Pai Oxalá. Ele significa a sabedoria ancestral, a pureza e leveza da paz. O algodão é também o símbolo da transformação, pois deixa de ser flor para se transformar naquilo que vai cuidar, vestir, aquecer, proteger. Por isso, quando se cobre a canjica para Oxalá com algodão, é para proteger a oferenda de toda interferência negativa, mantendo sua essência bem guardada. Do algodoeiro, além do próprio algodão, usa-se as folhas para banhos de limpeza, que tem seu uso medicinal contra coceiras e afecções da pele. Essas folhas, apesar de pertencer a Oxalá, são consideradas folhas quentes, pois têm como finalidade retirar toda energia que interfere na nossa paz de espírito.

Pode oferecer canjica a Exu? Sim! Desde que respeitando certos preceitos e cuidados, que serão passados pelo seu Pai ou Mãe no Santo. Geralmente quando se oferece canjica para Exu, é para pedir que acalme a ira dos inimigos, ou ainda, para pedir maleme a Exu, por algum erro cometido.

Em festas consagradas a Exu, é sempre de bom tom agradar a Oxalá. Por serem antagônicos, trazem o equilíbrio que se precisa para o controle de nossas emoções e sensações. De um lado o teimoso, o que insiste, persevera (Oxalá). Do outro, o que provoca e estimula o caos para manter a ordem (Exu).

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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