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O QUE É SER UMBANDISTA?

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Filhos de Santo se preparando para oferendas

Muitos são os seguidores da Umbanda no Brasil, que lotam Terreiros e Casas com suas vestimentas brancas e pés descalços. Incorporam Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Boiadeiros, Exus, Pombagiras e Orixás. Mas será que todos esses médiuns têm conhecimento do seu verdadeiro papel dentro da comunidade a que pertencem? Eis a questão!

Antes de tudo, é preciso compreender que a Umbanda é uma religião para todos, mas nem todos são da Umbanda. Existem os que procuram a Umbanda para resolverem algum problema de ordem material, espiritual ou emocional, tal qual como quem procura um médico quando está sentindo alguma dor, e depois de atendidos e tratados, seguem outros caminhos e só voltam a procurar um Terreiro quando se vêm em novos apuros. Nesse grupo, estão incluídos aqueles que, por conta dessa procura, e pelo recebimento da graça, acabam ingressando na Umbanda e dela fazendo a sua religião. São esses os que conheceram a Umbanda pela dor.

Num outro grupo, encontramos aqueles que, por terem um parente, amigo ou conhecido que é Umbandista, acabam por despertarem uma curiosidade em conhecer a religião. Chegando num Terreiro, se encantam com os rituais, vestimentas e aconselhamentos das Entidades, sendo tocados por uma sensação de bem-estar e prazer. São esses os que conheceram a Umbanda pelo amor.

Independente de como alguém conheceu a Umbanda, o que é preciso responder, é: o que é ser Umbandista?

Ser Umbandista é mais do que vestir uma roupa branca. É ter em seu coração todas as cores que representam todas as formas de vida, respeitando e auxiliando dentro de sua capacidade e limitações, todos aqueles que o procuram pedindo ajuda, ou simplesmente, respeitando todos os que passam pelo seu caminho.

Ser Umbandista é mais do que estar com os pés descalços numa Sessão (louvores aos Orixás e Entidades). É antes de tudo, ser grato a sua ancestralidade por tudo que viveram e sofreram. É ter a humildade de reconhecer seus erros e pedir perdão. É auxiliar ao irmão em desespero, sem pedir nada em troca.

Ser Umbandista é mais do que pendurar guias e colares no pescoço. É honrar as histórias, lutas, dores e sofrimentos daqueles que deram suas vidas para fazerem da Umbanda uma religião de fé e garantida pela Constituição do nosso país. É entender que em cada guia, colar, fio de conta; existe a representação de um povo que até hoje sofre perseguições, preconceitos e repressões.

Ser Umbandista é mais do que preparar padês, assentamentos e oferendas. É saber cuidar bem de quem precisa de você, é respeitar os que se encontram em lugares menos privilegiados do que o seu. É alimentar os que pedem comida e orações, e, os que só querem um ombro amigo pra chorar suas mágoas, sem serem julgados.

Ser Umbandista é compreender as fraquezas e vícios do outro, entendendo que todos nós, de alguma forma, também temos nossas imperfeições.

Ser Umbandista é entender que a Umbanda é muito mais do que uma religião: é a vida em movimento. É a manifestação do poder de Deus (Olorum) através das Suas criações.

Ser Umbandista é enxergar em nossos erros, a capacidade de crescer e melhorar. É ser feliz, mesmo quando as circunstâncias são adversas. É se permitir a chorar, quando estamos tristes. É ter raiva, ódio, inveja, mágoas, ressentimento...: feridas que insistem, por vezes, arderem em nossas almas. É não mentir pra nós mesmos, e se possível, pra ninguém. É saber que somos humanos à caminho da luz, e que cada dia é uma oportunidade única para cicatrizarmos àquelas feridas que só nós sabemos onde dói.

Ser Umbandista é se dar em sacrifício por amor a Deus e aos Deuses, sem sangrar.

Ser Umbandista é acreditar em Jesus Cristo sem pertencer ao cristianismo. É ser fiel aos princípios Daquele que dedicou sua vida a amar ao próximo como a si mesmo e fazer desse amor, arma infalível para levar alento e socorro aos desvalidos e marginalizados.

Ser Umbandista é saber ler, respeitar, cuidar e aprender com o Livro Sagrado de Deus: a natureza. É honrar seus Orixás através do comportamento ético e moral. É saber que a cada incorporação, manifestam-se os mistérios de Deus.



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rhayrasilvaoliveira
rhayrasilvaoliveira
16. Okt. 2023

Que lindo♥️

Axé 💙

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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