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JESUS CRISTO E OXALÁ NA UMBANDA

Foto ilustrativa de Oxalá e Jesus Cristo

Como Umbandistas, precisamos entender que nossa religião é livre, ou seja: cada Babalorixá e Yalorixá são reis e rainhas em suas Casas, seguindo os ensinamentos de seus Mentores Espirituais e praticando rituais de acordo com sua linha de trabalho. Daí, se deve entender, que cada visita a um Terreiro de Umbanda, é uma nova experiência e um novo aprendizado.

                No entanto, uma coisa todos têm em comum: a presença de Jesus Cristo.                                      

Para alguns, seria Ele a única encarnação de Oxalá, o Orixá que se fez homem e encarnou na Terra para anunciar a Boa Nova. Para outros, o Grande Mestre, o Espírito mais evoluído que já encarnou no nosso Planeta, o filho de Oxalá que através de sua vida nos deixa um legado de fé, amor e caridade, os três pilares da Umbanda.

                Não é diferente em outras religiões as várias leituras da presença de Jesus Cristo. Para o católico, por exemplo, ele está associado a segunda pessoa da Trindade, que seriam as três presenças de Deus manifestados. O Pai, que corresponde ao Criador, Jesus (que também é Deus) o filho encarnado e o Espírito Santo que é a manifestação (como o nome mesmo já diz) do Espírito de Deus em seus filhos. E assim, Jesus pode ser o Messias para algumas crenças, o Mestre para outras e o Profeta em outras tantas.

                Voltando à nossa Umbanda, é perfeitamente natural que algumas vertentes da nossa religião tenham Jesus como o próprio Oxalá. Isso se deve as qualidades e simbolismos que aproximam essas duas presenças, sendo Jesus a personificação máxima da fé em Deus e Oxalá o Orixá que ativa a fé dos seres e o primeiro dos Orixás.

                Oxalá é um Orixá, fragmento de Deus. O responsável pela criação do mundo. O que já existia antes do verbo se fazer carne. Representa a paciência, a bondade, a tolerância e a sabedoria.  Aquele que nos ampara em momentos de dor e desespero, acalentando nossas almas com as vibrações de fé e esperança. O Pai de todos os seres. O Senhor do sopro da vida.

                Jesus, o Espírito mais puro que encarnou entre nós com um alto grau hierárquico, com a missão de conduzir seus discípulos pelos caminhos da fé em si, em Deus e na manifestação do Pai em cada um de nós. Aquele que fez da sua vida um legado de amor aos seus semelhantes. O que esteve entre os leprosos e marginalizados. O que fez do amor a grande arma para mudar a triste realidade de um povo oprimido e infeliz.

Jesus Cristo e Oxalá

                Oxalá: o regente da verdade, da fé, da esperança, daquilo que acalenta os corações e traz paz pra você, para sua comunidade e para todos que buscam algo maior.

                Jesus: mensageiro de Oxalá !



SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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