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CAMARINHA: RITUAL DE RECOLHIMENTO NA UMBANDA

  • Foto do escritor: Luiz de Miranda
    Luiz de Miranda
  • 19 de jul.
  • 3 min de leitura

A Camarinha, é um ritual de Umbanda que consiste na preparação de um Filho no Santo que iniciará seu desenvolvimento. É também um espaço onde são feitas as obrigações de cabeça para os médiuns que já com tempo de desenvolvimento, se preparam agora para a Coroação (ritual de confirmação da Coroa que consiste em maior responsabilidade e compromisso com a religião).

No primeiro caso, o Filho no Santo terá sua primeira experiência direta com seus Guias e Orixás, vestido com sua roupa de Santo, passa a assumir seu papel de filho dentro da comunidade com todas os seus direitos e deveres. Aqui, podemos também chamar esse ritual de Deitada, pois é o momento em que a pessoa se entrega para passar a receber suas primeiras incorporações que estão por vir. Neste caso, a deitada é de algumas horas, diferente da Camarinha, que geralmente são três ou sete dias. Essa diferença se dá pelo fato da Camarinha trazer maiores fundamentos, como as Guias (fios-de-conta), comidas, bebidas, ervas, assentamentos e etc. Já a deitada, é mais rápida, pois está relacionada geralmente a apresentação da roupa branca, um amaci, uma obrigação para acalmar a cabeça ou ajudar na cura de uma doença. Também no cruzamento de uma Guia ou de um objeto consagrado a um Guia ou Orixá.

Durante essas horas ou dias que o filho no Santo passa nesses rituais, a Casa não realiza outros trabalhos, para evitar quaisquer interferências que venham a prejudicar o perfeito andamento das rezas e ritos.

Tanto a Camarinha como a Deitada, são rituais que levam o filho de Santo ou um frequentador de uma Casa a momentos de reflexão, paz interior, equilíbrio de sensações e emoções. São nesses momentos que se aprende como a Umbanda é grande e fundamentada em alicerces firmes e seguros. São horas ou dias, que se aprende a importância do silêncio, da introspecção, da necessidade de se aquietar e se deixar cuidar por aqueles que sabem tudo da gente, e estão prontos para nos responder na hora certa e devida.

Todo médium de Umbanda deve passar pela experiência de uma Deitada ou Camarinha. No entanto, nem todos conseguem alcançar os benefícios que esses rituais oferecem. E isso se dá por conta da dificuldade de relaxamento e entrega total. Nestes casos, observa-se a dificuldade daquele filho em se desligar dos interesses materiais, como: horários, compromissos profissionais, família etc. E isso é perfeitamente compreensível, dependendo de quem se trata. Afinal, nem todo médium consegue de fato, relaxar a ponto de se desligar desses valores materiais. Assim sendo, é preciso paciência do Pai ou Mãe no Santo, para aos poucos irem ajudando a esse filho a encontrar esse ponto de equilíbrio. E também, esse filho, se permitir a esse encontro; e não ficar com aqueles pensamentos fixos de que "não consigo", "sou muito ansioso", "não sei relaxar"... acredite: tudo tem seu tempo e hora, e isso não é diferente na Umbanda. Não é porquê uma pessoa é filho de um Terreiro que vai logo de imediato conseguir vivenciar os ritos e rituais ali oferecidos. Uma coisa é fato: quem conhece e se permite a vivenciar os rituais da Umbanda, jamais ficará sem resposta. Lembrando aqui, que, nem sempre as respostas que irão receber, será de seu agrado. Mas uma coisa é certa: serão necessárias para seu aprimoramento e amadurecimento espiritual.

"A Umbanda tem fundamento, e é preciso preparar."


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          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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