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AMACI: O PODER DO SANGUE DOS ORIXÁS!

Filho de Santo recebendo o amaci

Ao iniciar seu desenvolvimento num Terreiro de Umbanda, uma das primeiras coisas que o médium aprende é o cuidado com sua cabeça, a saber, que é por ela, que os Orixás e Guias se manifestam. Está na cabeça toda essência do Orixá que a rege. É pelo Ori (alto da cabeça) que o médium fortalece suas incorporações e alimenta o axé de seu Orixá. Ao dar início ao seu desenvolvimento na Umbanda, o neófito aprende desde logo, a cuidar e zelar por sua cabeça, tomando certos cuidados: não cortar o cabelo com qualquer profissional, não deixar qualquer pessoa passar a mão no alto, evitar jogar cabelos que ficam agarrados na escova, no lixo ou no vaso sanitário (procurar jogar em plantas, jardins ou estradas).

                Como tudo que diz respeito às origens de palavras e rituais de religiões afro-brasileiras, há sempre várias versões, o que é compreensível, entendendo que toda essa cultura foi passada oralmente, e sofreu grandes violações, dado ao fato da escravização daqueles que detinham o conhecimento sobre os Orixás. Com a palavra amaci não foi diferente. Numa primeira versão, explicam que a palavra amaci vem de “amaciar”, “tornar receptivo”. Já em outra, falam em “amassar a folha”. Eu, particularmente, prefiro a origem das línguas bantu, onde se entende maza, que em kikongo quer dizer água, e malasi que quer dizer perfume, ou seja : água perfumada.

                Independente da sua tradução, entendamos o ritual em si: o amaci tem como finalidade colocar o médium em contato direto com seu Orixá, pois as ervas que são maceradas e passam a representar o sangue verde dos Orixás, são colhidas em horários apropriados e pertencem ao Orixá Dono daquela cabeça que será lavada.

 Quando esse ritual é realizado, o médium é fortalecido no axé do seu Orixá, seu ori é alimentado, garantindo maior equilíbrio em suas emoções e firmeza em suas incorporações. Não só médiuns de incorporação tomam o amaci, cambonos, filhos de fé também podem receber esse axé, pois, o amaci tem como finalidade limpar e fortalecer o ori. Um ori forte garante prosperidade, autoconfiança, coragem, autoestima e tudo que possa ajudar no crescimento e aperfeiçoamento moral, espiritual e material. Esse ritual é realizado geralmente uma vez por ano.

                O amaci é o despertar da ancestralidade que está adormecida, é a consciência da importância de cuidar da sua própria história, buscando nessa ancestralidade a força que precisa para prosperar. O poder do amaci está nessa ligação forte e vibrante. No entanto, para vivenciar essa experiência, é preciso estar de corpo e alma receptivos. O coração e mente devem estar abertos para receberem o conhecimento e as bênçãos necessárias. Receber em sua Coroa o sangue verde do seu Orixá é um momento único, marcante e de extraordinária importância para todo aquele que quer seguir pelos caminhos da Umbanda. O amaci é a porta de entrada para essa nova vida. E para que essa nova vida traga as mudanças necessárias, é preciso que o filho desenvolva sua humildade e serenidade, ouça os mais velhos, observe e cuide das coisas do Terreiro, participe das Sessões e Reuniões de Estudo, honre o nome da sua Casa cumprindo com seus deveres e obrigações dentro e fora dela.                                                                       Receba o amaci entendendo que está recebendo a oportunidade de viver o axé de seus Orixás em seu corpo e alma.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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