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A MORTE NA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 1 de nov. de 2023


um pássaro livre para voar


São muitas as maneiras que várias religiões tratam esse tema ainda tão cheio de tabus e mistérios.

No entanto, na Umbanda, a morte é vista de uma maneira natural, um processo necessário para que a vida possa seguir seu curso. Como ensina Nanã Buruquê, é a morte que gera a vida. A morte e a vida andam juntas, e uma é consequência da outra. Não há vida se não houver morte.

Por vezes, o temor da morte se dá por consequência de lembranças de ensinamentos recebidos desde a infância, onde se entendia a morte como um castigo pelo pecado original. Para os Umbandistas tal afirmação não faz sentido, considerando que o pecado não existe no vocabulário umbandista. No entanto, as transgressões às leis naturais da vida, como matar, roubar, enganar, ludibriar, prejudicar um semelhante...; são faltas graves, desvio de caráter, que obriga a quem as pratica se redimirem nessa ou em outra reencarnação. Ninguém fica devendo nada pra vida. Àqueles que têm seus débitos, mais cedo ou mais tarde, terão que saldá-los. Talvez seja essa uma das razões de algumas pessoas temerem tanto a morte: o medo de enfrentarem as consequências de seus maus-atos.

Por outro lado, o apego exagerado aos bens e prazeres materiais, provocam, igualmente, o medo da morte. Essas pessoas imaginam que ao morrerem deixarão de usufruir dos benefícios que a vida material lhes proporciona. Nesse caso, é importante ressaltar que, na condição de espírito, nada de ordem material mais interessa. Outras riquezas, essas sim, eternas, serão conquistadas. Para isso, é claro, que o espírito desencarnado tenha consciência de que tudo que fazia parte da sua vida em corpo, não se faz mais necessário em espírito. Por isso mesmo, a Umbanda ensina aos seus seguidores a importância de se fazer o bem em cada segundo vivido neste planeta, para que então a morte não seja nada mais e nada menos do que a certeza de uma missão cumprida.

Morrer é a possibilidade de se manter vivo, quando o corpo que se ocupa não mais suporta o aprisionamento.

Morrer é se despedir de um corpo, não da vida.

A vida precisa da morte para se manter; enquanto a morte só existe porque há vida.

A morte é inevitável. A vida também.

A morte faz chorar. A vida também.

A morte é a alegria do espírito. A vida (se bem vivida) é a alegria da alma (espírito reencarnado).

Uma não se separa da outra. Caso ocorresse tal fato, ambas perderiam o sentido.

Viva por hoje, só por hoje, e dê o melhor de si em todos os sentidos. E fique certo, se assim o fizer, que a morte não passará de um instante, de um descanso, de um intervalo.

Se sentir vontade de chorar por alguém que partiu, chore. Afinal, se despedir de alguém que se ama, dói. Mas, lembre-se: é só um intervalo. Vocês estarão juntos de novo.

E não se esqueça: viva como quem vai morrer um dia.

O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo.” Leon Tolstói


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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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