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A CARIDADE NA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 31 de mai. de 2023


A CARIDADE NA UMBANDA


Muitos falam em prática da caridade, mas desconhecem o seu verdadeiro sentido. Não são poucos os que aparecem distribuindo cestas básicas, doando roupas, calçados, alimentos e toda sorte de bens materiais. Sim, não deixa de ser um ato de bondade, mas não necessariamente de caridade. A caridade vai além dessas atitudes e requer um esforço de doação muito maior.

Quando você se dispõe a doar algo de ordem material para alguém, na intenção de aliviar por alguns momentos a dificuldade daquele irmão, você está sendo bom, praticando um ato de solidariedade e de compaixão que nós podemos chamar de caridade material, uma forma de levar alívio e consolo naquele momento tão difícil. Isso é divino quando feito com o coração e de forma incondicional, sem querer nada em troca. Sim, traz alívio pra alma e sensação de bem estar. Mas, repito: a caridade vai muito além dessas atitudes. Paulo de Tarso, apóstolo de Jesus, define a caridade de forma objetiva e profunda: “Caridade é o amor em ação.” E é nesse conceito que a Umbanda ensina a prática da caridade mais agradável aos Olhos de Deus. É quando você aprende a ouvir um irmão aflito e confuso, sem interrupções ou julgamentos. É quando você consegue num abraço acolhedor e nas palavras de conforto, transmitir esperança àquele que se encontra em desalento.

A caridade é o amor em ação, quando você, mesmo cansado ou angustiado por seus próprios problemas, permite-se a deixá-los de lado, para atender o amigo que te procura em busca de afeto e compreensão. É buscar nas suas “reservas espirituais” a paciência, a tolerância e a empatia. É doar aquilo que você no momento não tem, mas, busca no seu íntimo os valores espirituais que tem aprendido com seus Guias e Orixás. Agindo assim, você acaba encontrando as respostas para dúvidas que muitas vezes te atordoam, mas, que por pensar só em si, tem dificuldade para percebê-las. Saindo de si mesmo e indo de encontro ao outro que te procura, você acaba sendo também beneficiado pela caridade que praticou.

Quando você consegue proporcionar ao outro uma alegria e dela se comprazer, você está praticando a caridade. É importante entender que a caridade só tem valor quando praticada honesta e sinceramente. De nada adianta forçar-se a um ato de caridade, se sua intenção é receber as dádivas divinas ou o reconhecimento humano. A caridade tem que ser natural, espontânea, incondicional.

Aprendemos na Umbanda que caridade não é moeda de troca, não nos garante a salvação ou o Reino de Deus e muito menos nos faz superiores a quem quer que seja.

Ao ingressarmos num Terreiro de Umbanda, iniciamos uma jornada para dentro de nós mesmos, dando o primeiro passo para o autoconhecimento, peça fundamental para entendermos quem somos, porque somos e qual nosso papel no mundo. Percebemos que cada um de nós tem sua importância, o seu valor, que a caridade é a consequência de tudo que absorvemos através dos conhecimentos adquiridos, que a mudança que tanto esperamos nos outros, acontece primeiro em nós mesmos. É preciso amar para ser caridoso. De outra forma, que não seja o amor, a caridade nada mais é do que uma perversão. Perversão essa que escraviza, limita, engessa e faz de falsos líderes religiosos figuras idolatradas por uma gente carente e desesperançosa.

A Umbanda é o amor em movimento, a caridade na sua excelência, vendo em cada um de seus seguidores pessoas capazes de serem melhores do que são, de se curarem de suas feridas através da cura do espírito, esse sim, imortal e em constante processo de crescimento

Aprendam a amar, para que possam entender e viver os benefícios da caridade.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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