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POMBAGIRA: O PODER FEMININO QUE INCOMODA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 16 de jul. de 2023



O EMPODERAMENTO FEMININO QUE INCOMODA


Não é de hoje, ou melhor, desde sempre, que a voz da mulher empoderada é alvo do patriarcado e do machismo, que a todo custo tenta calar, intimidar e oprimir as mulheres que lutam pela igualdade e equidade. Mulheres que enfrentaram todo um sistema voltado apenas para favorecer aos homens brancos e heterossexuais que para imporem seu poder, não mediam esforços para colocar a mulher num lugar de submissão e subserviência. Não são poucas as histórias de mulheres que por transgredirem esse sistema, foram expostas aos mais perversos castigos e humilhações durante séculos. Falar de Pombagira é falar da luta e conquista dessas mulheres. Não é à toa, que até hoje, o preconceito , as inverdades, as calúnias proferidas contra a Pombagira, por líderes religiosos machistas e mulheres acovardadas e frustradas, são disseminados em seus templos e pregações: eles não suportam a ideia de que perderam a guerra para o empoderamento feminino, e Pombagira é o retrato fiel desse empoderamento.

Falar de Pombagira é falar de libertação! Quando uma pessoa tem um contato com essa Entidade, logo percebe que ali está o caminho para seu autoconhecimento, percebe o quanto ela precisa acreditar no seu potencial, no seu talento, nas suas verdades e sonhos. Passa a achar possível ser feliz por se amar, e não esperar que alguém a ame. É isso: Pombagira ensina o amor próprio, a dignidade, a valorização da autoestima. Suas cores, o vermelho e preto, refletem essa personalidade: enquanto o preto simboliza o oculto, o que deve ser guardado e protegido, o escudo de defesa contra as inseguranças; o vermelho traz a determinação, a coragem, força, paixão e desejo.

Na sexualidade, Pombagira estimula o desejo e o equilíbrio, desmistifica o pecado e a culpa. Joga por terra a hipocrisia daqueles que negam seus desejos.

Quando um homem ou uma mulher em gênero ou identidade de gênero vivem a verdade de seus sentimentos e desejos, encontram na Pombagira o colo de uma mãe, a mão firme de uma amiga, o abraço sincero e acolhedor de uma irmã, a defensora incansável dos direitos e deveres de todos os cidadãos.

“Arreda homem, que aí vem mulher...” nessa curimba de Umbanda, Pombagira deixa claro que voltou ao mundo para afirmar aos machistas, que lugar de mulher é onde ela quiser estar, e ainda, fazer valer sua voz nas decisões políticas, sociais e familiares. Ninguém cala a voz de Pombagira, ninguém emudece uma mulher empoderada.

Pombagira nunca foi puta, sempre foi dona do seu corpo, das suas vontades e desejos, sempre enfrentou todas as adversidades com força e coragem. É a mulher que dança, que ri, que se enfeita pra si e pra quem gosta.

Pombagira é a manifestação do poder gerador feminino. O homem que não conhece ou aceita o seu lado feminino, nunca entenderá ou saberá cuidar de uma mulher, e pior: nem de si mesmo.

Pombagira nunca foi leviana, e sim, transgressora, aquela que desfaz todas as imposições a ela atribuídas pelo sistema patriarcal e machista.

Pombagira não é recatada, é autêntica, mostra e expõe seus desejos, defeitos, vontades... é mulher por excelência.

“Cuidado com a Pombagira, na Linha de Umbanda ela é um perigo.” Nessa outra curimba, Pombagira deixa claro que ao lidar com ela, há de se estar preparada para as mudanças e desconstruções do caráter e personalidade. Tentar enganar ou usar uma Pombagira para atender seus próprios caprichos, é um sério risco. Ela não está nos Terreiros de Umbanda para atender caprichos de ninguém, e sim, para o despertar de uma nova realidade. Realidade essa, que muitas vezes, é sufocada pelo medo, carência, insegurança e preconceito.

Homens e mulheres são iguais perante Pombagira, desde que haja o respeito à igualdade de direitos.

O Umbandista sabe que onde está a Pombagira, está a proteção, o amparo, o encorajamento, a verdade de ser quem se é. E aprendem que ao colher uma rosa, há de se ter cuidado com os espinhos, se não souber colher, poderá se machucar..



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Patricia Martiliano
Patricia Martiliano
Oct 21, 2022

Pombagira é mãe, amiga, heroína e professora.

Ai de Mim se não fosse pombagira. Que sejamos sempre merecedores desse amor❤❤❤


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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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