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OS CIGANOS NA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 20 de out. de 2023


Sendo a Umbanda a religião de Deus, natural que se agrupem nela Espíritos de todos os lugares, costumes e cultos. Não foi diferente com os Ciganos, um povo perseguido e ultrajado que consegue até hoje, manter vivos seus costumes e crenças. E é, na Umbanda, que muitos desses Ciganos encontraram depois de desencarnados, as condições para continuarem realizando seus trabalhos. Digo muitos, porque nem todos os que desencarnaram ciganos, permaneceram na espiritualidade na mesma condição. Os que permaneceram, receberam a missão de orientar e disciplinar os umbandistas através da lei do amor e do perdão. São hoje muito conhecidos pela sua magia, pelo amor a natureza e suas manifestações, pela manipulação dos quatro elementos: terra, fogo, água e ar. E assim, conseguem levar alento e esperança àqueles que os procuram.

Os valores morais, tais como: respeito, ética, fraternidade e etc., são muito defendidos por essas Entidades que pregam a união da família e o respeito aos antepassados. Quando eles falam na família, não é só na hereditariedade sanguínea, mas, principalmente na Família Universal; entendendo assim, que somos todos irmãos. E é esse espírito de fraternidade, que faz com que possamos viver harmoniosamente com as diferenças dos nossos semelhantes.

Quando encarnados, defendiam a família sanguínea, o clã, a obediência aos mais velhos e o profundo respeito aos antepassados. Agora na espiritualidade, eles entendem que a família se forma, não pelos laços de sangue, mas basicamente pelas afinidades e diferenças. E é com esse pensamento, que os Ciganos trabalham pela união e fortalecimento da nossa religião, sem perderem suas identidades e sem ferirem seus princípios religiosos. E, até porque, religião para os ciganos, é o culto a vida em todas as suas manifestações, sem a necessidade de templos ou igrejas. Onde eles estiverem, sempre levarão magia, alegria e entusiasmo. Como a Umbanda permite tais comportamentos, eles se sentem à vontade, para nos Terreiros, praticarem seus rituais.

Até aqui, falamos dos ciganos genuínos: Entidades que mantêm as características e costumes das suas últimas reencarnações.

Mas, nem todos os ciganos que se apresentam na Umbanda, são ou foram de fato, ciganos. Muitos foram poetas, artesãos, artistas circenses, boêmios, declamadores. Na sua maioria, são espíritos que se agregaram a Falange dos Ciganos por simpatia, afinidade e principalmente pela identificação que têm com esses Espíritos, por conta da vida que levaram aqui na Terra. Ou seja: independente de sua raça ou credo viveram como nômades. Amantes da liberdade estavam sempre em busca de novos lugares, novos conhecimentos e novos amores. Em cada lugar que visitavam, adquiriam novos conhecimentos, experimentavam novas emoções, conheciam novas culturas. Enfim: eram livres para aprenderem e ensinarem.

Ao desencarnarem, passam a aprender sobre como lidar com todo conhecimento que adquiriram na vida material. Esses conhecimentos serão sempre muito úteis nas conversações que tiverem com seus seguidores. Aprendem sobre as magias do povo Cigano, e, depois de um tempo de aprendizagem, iniciam suas preparações para incorporarem.

Na Umbanda, são tratados como Exus-Ciganos, para serem diferenciados dos Ciganos genuínos. No entanto, essa diferenciação em nada diminui suas responsabilidades e compromissos com a religião que abraçaram. Ao contrário, cabe a eles geralmente o papel de protetores e divulgadores da doutrina umbandista.

Tanto os Ciganos como os Exus-Ciganos, não exercem a função de guardiões das Casas que frequentam, mas sim, de protetores e orientadores dos que seguem essas Casas.

A função de guardião é sempre dada aos Exus de Coroa, ou seja: exus que obedecem a vibração de um determinado Orixá e têm por função fazer cumprir a lei deste Orixá. Receberam Deles, a função de guardar e defender os seus cultos, os seus filhos e seus descendentes.

Já os Ciganos ou Exus-Ciganos, na condição de protetores, não ficam presos a um determinado Orixá. Isso não impede de terem uma preferência ou afinidade com uma determinada energia. Conhecemos Exus-Ciganos que gostam de trabalhar com a linha do mar, outros, com a linha das matas e assim por diante.


As festas são de suma importância para estas Entidades. São nessas ocasiões que mostram todo seu axé através dos ‘pontos’ e danças. Roupas coloridas, jóias, lenços, perfumes e flores: tudo isso faz parte de um grande aparato manipulador das mais puras vibrações de alegria e confraternização. Estar diante de várias pessoas, é para essas Entidades um momento único, importante para reforçar os laços de amizade e fraternidade.

Persuasão, ordem, disciplina, propósito, coragem, organização... são muitos do sentimentos e comportamentos que o Povo Cigano nos ensina a exercer.

Amantes da liberdade, nos querem livres e firmes em nossos propósitos.

Salve o Povo Cigano na Umbanda!

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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