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AS CRIANÇAS DA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 27 de set. de 2023


As Crianças da Umbanda

Hoje vamos procurar entender um pouco mais sobre a importância das Crianças ou Ibejadas nos rituais de Umbanda.

O mês de setembro é dedicado a essa poderosa e imprescindível falange, que enche nossos Terreiros de cores, alegrias e muita esperança.

Mais do que incorporar essas Entidades, é preciso entender os seus reais fundamentos e sua importância para o nosso autoconhecimento enquanto seres em evolução. São elas que trabalham nossas mais íntimas lembranças e sentimentos. Em suas incorporações, buscam resgatar as mais doces lembranças da nossa infância e de todos aqueles que participam da Gira. De uma forma lúdica e bem-humorada acabam por despertar em nós valores e sentimentos já esquecidos com o passar dos anos. Elas brincam, cantam e conversam pouco, pois sua intenção é fazer com que cada um de nós se esqueça dos problemas diários e entre na grande ciranda da vida com muita alegria. Sim, elas nos ensinam que por pior que seja o momento que estamos passando, nada deve ser mais importante do que a vontade de viver e ser feliz.

As Crianças da Umbanda são espíritos de grande elevação e gozam diretamente das bênçãos de Deus e dos Orixás, pois só elas podem estar onde muitas vezes outras Entidades não o podem, provavelmente, por já terem passado por esses lugares (fases), e hoje, ‘crescidos e mais velhos’, tomados por outras responsabilidades, deixaram para trás a inocência e ingenuidade. Existe um ditado que diz: “A Criança pode desfazer qualquer trabalho feito por uma Entidade. Mas, nenhuma Entidade, desfaz o que uma Criança fez.”

São essas Entidades infantis que estimulam a nossa autoestima, nos ajudando a vencer a timidez, a insegurança, a solidão, a tristeza e o medo. Buscam em nossos ‘arquivos emocionais’, as melhores lembranças e com isso, nos fazem acreditar de novo, querer de novo, sentir de novo tudo que nos fez bem. Cuidar da nossa Ibejada, é cuidar da criança que habita em nós, sem traumas ou ressentimentos. É não ter vergonha do nosso passado, dos nossos erros ou de nossas frustrações. Afinal, na grande “ciranda da vida”, tudo acaba por serem grandes ensinamentos. A canção do Gonzaguinha expressa bem o axé dessas Entidades: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz.”

O comportamento das Crianças da Umbanda em nossos Terreiros é variado, pois depende muito do Orixá que as rege. Vai desde aquela mais chorona, manhosa, até a mais peralta e agitada. Mas todas com o propósito de garantir a limpeza e equilíbrio espirituais aos seus médiuns e participantes.

A Criança da Umbanda (Ibejada) ainda nos traz um grande ensinamento: o respeito aos mais velhos. Tem forte ligação com os Pretos-Velhos, aos quais devotam extremo carinho e consideração. Dessa forma, é fácil entender o que querem nos dizer: se queremos ter uma vida feliz e saudável, é importante que respeitemos e obedeçamos àqueles que chegaram primeiro que nós. Afinal, já percorreram caminhos que nós ainda percorreremos. E ter a bênção dos nossos pais e avós, é a certeza de uma velhice segura e bem amparada.

Carinho, gratidão, alegria, fé, boa vontade, compaixão e solidariedade, são sentimentos que nos aproximam das Crianças de Umbanda. Sendo assim, esforcemo-nos em alimentar esses sentimentos e colocá-los em prática, sempre que possível, ou mesmo, com muito esforço. O importante é não deixar morrer nossas esperanças e nossas alegrias.

Cuide bem da sua Criança, alimente-a com doçura.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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