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OGUM ESTÁ ENTRE NÓS!

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Nenhum outro Orixá se fez tão popular no Brasil quanto Ogum. No dia 23 de abril não são poucas as cidades que realizam homenagens ao Santo Guerreiro. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, através da Lei Nº 5198, publicada em 05 de março de 2008, foi decretado feriado estadual. Logicamente que tal feito se deve ao sincretismo religioso ainda muito impregnado em vários Terreiros de matriz africana, onde se associam o Santo católico São Jorge ao Orixá Ogum; mesmo sendo sabido que os dois são personalidades distintas e com histórias bem diferentes.

Enquanto o primeiro nasce na Capadócia, na Turquia no ano 275 d.C. e no dia 23 de abril de 303 é degolado por ordem do Imperador Diocleciano, por se negar a abandonar a fé cristã; o segundo, é de origem nagô e de acordo com a teologia iorubá, Ogum foi o primeiro Orixá a descer do orun (céu) para o Ile Ifé, a Terra primordial, com a missão de estabelecer os limites entre as criações e criar condições favoráveis para a evolução da humanidade.

É compreensível e admirável a presença maciça de seguidores da Umbanda e Candomblé pelas ruas no dia 23 de abril. Afinal, é uma maneira de agradecer aos antepassados pela capacidade de manterem viva a história de Ogum, mesmo que através do sincretismo religioso.

Ogum traz consigo então o ferro e ensina ao povo que vivia na Terra a forjar o metal. Nessa época havia grande escassez de alimentos por conta do aumento da população e a dificuldade de realizar o plantio, que à época, ainda era feito com instrumentos de madeira e pedra. Dessa forma, Ogum se faz conhecido como o Senhor da tecnologia: aquele que abre caminhos para dar ao homem mais conforto e facilidades.

Com a chegada do ferro, além das ferramentas agrícolas, Ogum traz também as armas de guerra e ensina seu povo a manuseá-las para defender seus territórios. E Ogum é aclamado como o Senhor da guerra: aquele que guerreia pela paz e pela garantia dos direitos de cada ser humano. Ogum não descansa sobre suas armas, pois está sempre ensinando a cada um de nós a necessidade da luta para a conquista de nossos objetivos. Ogum guerreia para garantir a ordem e a disciplina. Ninguém vence na vida se não for um bom guerreiro.

Ogum está na abertura de estradas, na fabricação de carros e máquinas agrícolas, no fio afiado da navalha do barbeiro, nas engrenagens que fazem girar os grandes e pequenos motores, na precisão e força do homem que bate o martelo sobre a bigorna para malhar e forjar os metais.

Ogum está no empunhar da espada pelo braço forte do homem justo, determinando os limites de cada um e anunciando os tempos de lutas e glórias contra toda opressão e covardia. Ogum nunca abandona o campo de batalha.

Ogum está no sangue que corre nas veias.

Ogum sempre caminha para frente.

Ogum está nos limites das emoções e sentimentos.

Onde o homem desiste, Ogum resiste. Nada é capaz de parar Ogum.

Na Umbanda, através de seus Falangeiros, Ogum deixa claro os limites entre os reinos da natureza, dentre Eles:

Ogum Beira Mar: está no limite entre o mar e a areia. O guardião do reino de Yemanjá.

Ogum Sete Espadas: está nos limites que dividem cidades e municípios. O grande sentinela da Umbanda, atuando também nos limites da entrada do Terreiro.

Ogum Rompe-Mato: está nos limites que separam as estradas, das matas. O guardião do reino de Oxóssi.

Ogum Yara: está entre as matas e os rios. Guardião do reino de Oxum.

Ogum 7 Ondas: está no limite do mar, onde as ondas são formadas. É este Ogum que leva as oferendas oferecidas pelos fiéis, à Mãe Iemanjá.

Ogum Matinata: está nos limites do alvorecer. Guardião das oferendas de Oxalá.

Ogum Megê: o Senhor dos limites entre o mundo dos vivos e dos mortos. O guardião do Campo Santo (cemitério) e de todos os portais que permitem a comunicação dos espíritos desencarnados com os encarnados. Atua para ensinar aos homens o manuseio das “ferramentas espirituais” para sua evolução. Evocado para auxiliar na cura de doenças de ordem emocional e afetiva.

Ogum: o Orixá que no empunhar da sua espada determina a ordem e a disciplina, dissipando através da luz que dela irradia, as energias do mal. Ogum sempre nos diz: “não tenha medo de lutar por seus objetivos, Eu estarei sempre à sua frente!”

Por hoje e sempre, louvemos o poder de Ogum. Ele está entre nós!

Ogum nhê!!!

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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