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MARIWO: A proteção de Ogum

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda
filho de Ogum em transe

O poder das folhas é incontestável, são elas que trazem o axé dos Orixás para os Terreiros de Umbanda. Sem folha não há Orixá, uma frase repetida há séculos por adeptos das religiões afro-brasileiras, e que ecoam até hoje em seus ritos e rituais.

              E a folha do dendezeiro, mostra a que veio: pertencente ao Orixá Ogum, devidamente preparada, encantada, desfiada e pendurada nas portas, cumpre a missão de proteger e guardar os filhos e filhas daquela comunidade. É o mariwo: a roupa de Ogum, aquela que acalma sua ira e traz sua proteção. Preparar o mariwo é um rito de muita responsabilidade, é dito inclusive, que só os homens devem desfiar a folha da igi òpè (dendezeiro), e devem fazê-lo com muita calma e paciência.

                                                                                                                                                                Algumas Casas de Umbanda, mais ligadas as tradições africanas, expõem os mariwos em suas portas, principalmente nos mês de Abril, período dedicado ao Orixá Ogum.


               Uma antiga lenda, conta que havia um mercado na cidade de Ire, conhecido por ser um mercado cheio de sofrimento, mas que apesar do sofrimento, o grande Deus da Adivinhação, Orunmilá conseguiu lá a sua prosperidade. Sabendo disso, Òsàlá também almejou a prosperidade, procurando saber com Orunmilá, o que ele deveria fazer para passar pelo sofrimento e conseguir o seu objetivo. Orunmilá recomendou à Òsàlá que fosse ao mercado, mas que tivesse muita paciência, pois assim conseguiria sua prosperidade. Assim Oxalá o fez. Na primeira ida ao mercado, Oxalá não encontrou nada, somente um Ìgbín (caramujo consagrado a Oxalá), cobrando-lhe pedágio. Oxalá novamente foi ao mercado e não encontrou nada, além do sofrimento e do Ìgbín que novamente lhe cobrou o pedágio. Mesmo a contragosto, Oxalá recordou-se que deveria ter paciência, caso desejasse a prosperidade. Na terceira vez que foi ao mercado, ele novamente pagou o pedágio ao Ìgbín, contudo, ao invés de sofrimento, ele encontrou uma grande riqueza, o tornando um grande Rei próspero.

Ao saber que Oxalá havia conseguido sua prosperidade no mercado do sofrimento, Ogum também procurou saber com Orunmilá, como também tornar-se próspero. Orunmilá lhe disse que ele deveria ser paciente e, em hipótese alguma, deveria usar o seu Alada (Facão) e seu Porrete (Kumo).Ogum de posse das orientações de Orunmilá, foi até o mercado do sofrimento, chegando lá deparou-se com um cachorro no portão, cobrando-lhe pedágio para entrar. Ogum achou inaceitável um cachorro lhe cobrar pedágio e, num impulso imediato, pegou seu Alada, ferindo o cachorro até a morte.

Todos gritaram: “Ele matou o Onibode” (o guardião do portão), todos começaram a chorar e, com vergonha, Ogum correu mata adentro, onde havia uma grande plantação de Labelabe (uma planta cortante, chamada em Salvador de tiririca). As folhas de labelabe cortaram toda a roupa de Ogum. Quando ele saiu da mata, chegando a praça principal da cidade, ele estava completamente nu. As pessoas então gritaram “Ògún Kolaso” (Ogun não se cobre com roupas). Novamente envergonhado, Ogum olhou um Igi Ope, arrancando-lhe o broto e vestindo-se com o Màrìwò. As pessoas, por sua vez, exclamaram: “Màrìwò Asò Ògún-o Màrìwò” (Mariwo é a roupa de Ogum, o Mariwo). Como forma de arrependimento, Ogum desde então, passou a usar o Màrìwò como a sua vestimenta.


Outra:


Um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, o dono da mata, foi ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro, mariwo, e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. E assim se fez.

Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo.

A-proteção-de-Ogum

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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