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IANSÃ E O CARNEIRO: NINGUÉM ENGANA IANSÃ

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

carneiro

Oya e o Carneiro foram uma vez grandes amigos. Ela confiava a ele todos os seus pensamentos, seus medos e seus segredos. Até quando ela não tinha como contar com um Orixá, lá estava o Carneiro para ajudar e ela o amava acima de todas as coisas. Os inimigos de Oya colocaram um prêmio por sua cabeça; Suas andanças pelo mundo causam problemas para eles e eles colocaram um prêmio por sua cabeça. O Carneiro ouviu rumores dos seus anseios, mas como a história foi passando entre todos na terra, a história mudou. O que o Carneiro ouviu foi que Olorun, ele mesmo, queria destruir Oya, e ele estava oferecendo o presente da imortalidade para aquele que a trouxesse ao seu palácio. Em cobiça o Carneiro foi até Olorun e disse-lhe. “pai, eu tenho ouvido sobre seu ódio por Oya e eu posso trazê-la aqui para você”. “Eu posso enganá-la e você poderá ter a cabeça dela como você quiser”. Olorun ficou abalado. Ele, também, tinha ouvido que Oya tinha grandes inimigos que queriam a sua morte. Ele também tinha ouvido que entre todas as coisas sobre a face da terra a que ela mais amava era o carneiro. "-E como, Olorun perguntou, você será capaz de trazê-la para mim?". "- É simples meu Pai", ele disse. “ Oya confia em mim a sua vida, nós somos os melhores amigos que existe. “Eu a trarei a você assim que você concordar em me dar o prêmio que ofereceu por ela” . "- E o que poderia isso ser, carneiro?". "- A vida eterna. Isto foi o que você prometeu, não é?" Olorun ao ouvir isso ficou furioso, mas sua face estava calma. “- Carneiro, ele disse, traga Oya para mim e eu lhe darei o que deseja vida eterna”. “Falhe e no lugar da cabeça de Oya eu irei ter a sua”. Ele dispensou o carneiro; tão logo o animal deixou seu palácio, Olorun transportou a si mesmo para a casa de Oya. “- Oya, ele alertou-a, você tem muitos inimigos que desejam a sua cabeça”. Mas, nenhum deles pode trair você como seu melhor amigo. O carneiro está vindo para entregar você nas mãos deles. “Você não pode deixá-lo te destruir” . “- Pai, ela disse desacreditando, certamente você está brincando”. “Ele é meu melhor amigo, aquele no qual eu acredito acima de todas as coisas”. “- Isto é verdade, Oya”. Ele irá oferecer a você um lugar seguro e ao invés disso ele a trará até mim. Para, você ver, o carneiro acredita que eu quero a sua cabeça, e ele me veio hoje oferecer trazer você até mim. “Em troca da sua cabeça ele quer a vida eterna”. A raiva soou como um sino dentro de Oya, tomando conta de si e fazendo o seu sangue ferver. Olorun estava além da mentira, mas o carneiro era o seu maior amigo. Ele sabia todos os seus segredos. Os relâmpagos brilhavam em seus olhos quando ela disse: "- Eu irei destruí-lo!". "- Não Oya" ele a acalmou com sua voz gentil. “amigos jamais podem trair amigos e você não pode maldizer a quem um dia você abençoou”. Quando o carneiro vir para trair você, você vá com ele. Mas antes coloque seus nove ides de cobre em uma caixa. Assim que você chegar aos muros do meu palácio, sacuda a caixa vigorosamente e um enorme redemoinho ira descer do céu e tirar com segurança do caminho. Meus guardas irão prender o carneiro nos muros do palácio e eu mesmo irei puni-lo por esta traição. “Ele sabe que o custo da falha e grande e eu mesmo iremos tirar a sua cabeça com minhas mãos.” Olorun parou por um momento e então ele abraçou Oya. “Minha filha, os seres mortais fazem coisas estranhas devido à cobiça”. Mas o carneiro sabe que você o ama. Talvez mesmo agora ele esteja repensando este seu plano vil. Talvez ele não venha. “Talvez ele não traia você.” Ouve então ou ruidoso barulho na porta de Oya. “- É ele, disse Olorun, “Eu preciso ir”, E sua figura se desmanchou no ar”. “Oya abriu a porta, e o carneiro, agitado e desesperado por dentro, “Minha amiga”, ele disse com sua voz embargada,” - seus inimigos estão vagando na floresta e são muitos. Ele irá vir aqui para matar você. “Venho comigo e eu irei levá-la a um lugar seguro”. Ela controlou sua raiva e rapidamente disse "- Eu preciso pegar uma coisa primeiro”. “Não temos tempo!" Mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa Oya estava em seu quarto. Ela colocou nove idé de cobre em uma caixa, como Olorun disse e montou nas costas do carneiro. “Certamente isto não está acontecendo, ela pensou, talvez... o carneiro esteja me pegando para levar longe de Olorun". Em um instante o Carneiro estava correndo pela floresta com Oya nas suas costas. O caminho familiar não deixou dúvida para Oya e ela finalmente acreditou que ele a estava levando para Olorun. Os portões do palácio cresceram na frente deles e Oya como Olorun havia instruído, sacudiu a caixa vigorosamente. Um imenso tornado desceu e levou Oya com ele para os céus, longe da visão do carneiro. Ele congelou. Assim que o tornado se foi ele foi rodeado pelos guardas de Olorun que o trouxeram diante do trono. CARNEIO, gritou o normalmente gentil Olorun, “Você se envolveu em grandes crimes hoje”. Você buscou destruir sua melhor amiga, aquela que o amava acima de todas as coisas. Você pensou que eu queria a cabeça de Oya. Eu a amo assim como amo todas as minhas crianças na terra. Oya tem muitos inimigos, isto é verdade, mas nunca eu fui o seu inimigo. Eu jamais poderia trair aquilo que eu uma vez abençoei. A ira de Olorun cresceu e encheu a enorme sala. “Pelo motivo de você estar desejando entregar uma de minhas mais amadas filhas nas mãos frias da morte, eu sentencio você carneiro à morte. Sua cabeça é minha assim como todas as cabeças pertencem a mim. Eu irei tomar a sua cabeça agora!. E foi assim que o carneiro encontrou a morte devido à sua traição a Oya. Sua cabeça foi enviada aos inimigos de Oya como um sinal de Olorun que ele mesmo jamais iria tolerar que qualquer coisa fosse feito a ela. Os inimigos de Oya fugiram e ela nunca mais foi traída novamente. Desde esta traição, Oya jamais estará na mesma sala com o carneiro que foi uma vez o seu melhor amigo, seu confidente e tentou destruí-la.

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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