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AZEITE DE DENDÊ: FONTE DE VIDA E AXÉ!

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda
sementes de dendezeiro e óleo de dendê numa tijela

"O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq) é uma planta nativa da África Ocidental e é cultivada principalmente no Brasil, na Colômbia, na Costa do Marfim, em Gana, na Indonésia e na Nigéria. Esta palmeira, que pode chegar a 15 m de altura, é conhecida pelo seu óleo, extraído dos frutos, e é amplamente usado na culinária brasileira, especialmente na região do nordeste.

A espécie possui frutos arredondados, de cor alaranjada, que crescem em cachos. A paisagista Clariça Lima afirma que essas pequenas frutas podem ser divididas em três partes: a polpa, que é a porção alaranjada; a casca da amêndoa, bem dura como a de todo coquinho; e a própria amêndoa. O azeite de dendê, usado na cozinha, é feito apenas com a polpa. O esmagamento da semente rende um óleo mais claro, chamado palmiste.

Consumido há mais de 5.000 anos, foi introduzido no continente americano a partir do século 15, coincidindo com o início do tráfico da escravidão entre a África e o Brasil. “Acredita-se que a falta de outras gorduras animais e vegetais no Brasil levou os escravos a usarem com mais liberdade o azeite de dendê, e, assim, foi inserido na nossa cultura como óleo de base”, explica a paisagista.

Outra grande vantagem do óleo de dendê sobre os demais é que, na sua extração, usa-se apenas processos mecânicos, sem a adição de produtos químicos ou aditivos." (https://revistacasaejardim.globo.com/paisagismo/noticia/2023/04/dendezeiro-conheca-a-arvore-que-origina-o-azeite-de-dende.ghtml).


Na Umbanda, o uso do azeite de dendê é indispensável para os preparos das comidas dos Orixás. Esse alimento tão importante, traz consigo toda história de força e resistência do povo africano. À época, em pleno exercício do cruel tráfico de humanos escravizados, o azeite de dendê seguiu junto com seus cultivadores atravessando o Atlântico até chegar ao Brasil. Não houve dor, tortura, medo que fizesse o preto escravizado esquecer suas origens; e uma dessas lembranças enraizadas em sua alma, estava o azeite de dendê, representando toda sua sabedoria e resistência. Quem se lava no dendê, nunca esquece do dendê! Afinal, o azeite de dendê com suas propriedades místicas, simboliza o dinamismo, a coragem o entusiasmo. Ele é considerado o sangue vegetal, que sustenta a vida. Traz o equilíbrio das emoções, aquecendo o que faz bem e consumindo o que faz mal. Apaziguador, enfraquece as energias pesadas e alimenta as boas.

Na língua Yorubá é chamado de epó pùpà. Na língua bantu, Ndendên.

Por conta de um interdito mencionado no Itan de Oxalá, onde ele é perseguido e tem suas roupas brancas sujas com azeite de dendê por Exu, não se usa em hipótese alguma esse alimento para o Senhor do branco.



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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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