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UMBANDA: A FORÇA QUE NOS CONDUZ!

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda


Geralmente quando se fala em Umbanda, vem à mente o dia 15 de novembro de 1908 e o nome de Zélio Fernandino de Moraes. No entanto, é necessário saber que muito antes de Zélio apresentar e institucionalizar a Umbanda, os rituais de incorporação de Entidades e Ancestrais já existiam no Brasil. Aliás, até mesmo, antes de Allan Kardec saber da existência de espíritos, o que ocorreu em 18 de abril de 1857, as Entidades e Orixás de Umbanda já incorporavam e realizavam seus trabalhos através de seus médiuns pretos, escravos e alguns alforriados; que é o caso de Luzia Pinta, mulher negra, praticante do Calundu, ritual de origem Bantu, que muito se assemelha aos rituais de Umbanda.

Luzia Pinta chega de Angola no Brasil no ano de 1739, já com uma situação financeira boa e proprietária de uma pequena porção de terras, onde vivia com três escravos; sendo um homem e duas mulheres. Instala-se em Sabará (MG) e logo de imediato fica famosa por suas curas e rezas através dos rituais de louvação aos Espíritos da natureza. Não demora muito pra que se comece uma perseguição cruel e cheia de artimanhas macabras para levá-la a julgamento do Santo Ofício. Após um longo período de torturas e muitas humilhações, Luzia Pinta é encaminhada para uma prisão na Vila Castro Marim, Algarve, Portugal, no ano de 1744, de onde nunca mais se soube qualquer notícia.

Esse é o caso mais famoso e com farta documentação, que retrata a perseguição desde sempre, contra as religiões de matriz africana.

Desde lá, séculos depois, o Umbandista ainda tem que se ver diante de ataques preconceituosos e buscar na sua fé, a força para superar e vencer todas as correntes contra a sua religiosidade. E a Umbanda responde a seus filhos com a grandeza e poder de seus Orixás. Afinal, a Umbanda é uma religião de resistência, e seus médiuns são alimentados por esse sentimento, fazendo deles pessoas preparadas para lutar e vencer contra toda e qualquer adversidade. Por mais que se depare com uma situação adversa, e se sinta desanimado, o médium de Umbanda sabe que a força do seu Orixá e a lealdade de suas Entidades, trarão a força que precisam e as respostas que buscam. Nada é em vão na Umbanda, tudo tem a finalidade de desenvolver em seus médiuns a busca do autoconhecimento, da autoestima, da coragem, da esperança e do poder incomensurável da sua fé.

Nas angústias e tropeços que a vida por vezes lhe impõe, o médium de Umbanda consegue transpor esses obstáculos graças a presença viva de seu Orixá, que sempre encontra uma maneira de falar com ele, de acalmá-lo, encorajá-lo e fazê-lo entender que por mais difícil que esteja a solução de um problema, é o sinal de que esse problema tem como ser resolvido.

A história da Umbanda é sem dúvidas um grande estímulo para seus médiuns. Afinal, quando eles olham pra trás e lembram-se das histórias de vida de seus antepassados e ancestrais, entendem que não há vitória sem luta. Hoje, graças a Zambi e aos Orixás, a luta do Umbandista é para vencer antes de tudo, os seus inimigos mais íntimos: o orgulho, a inveja, a impaciência, os desequilíbrios emocionais e psíquicos, a vaidade e a ingratidão. E pra isso, não é preciso tanto, que não seja a dedicação e compreensão dos ensinamentos Daqueles que entregaram suas vidas para garantirem o exercício pleno da nossa fé.

Honremos com louvor àqueles que morreram por nós!

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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