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O JOGO DE BÚZIOS NA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 18 de jan. de 2024



Muito ainda se discute sobre o uso do Jogo de Búzios na Umbanda. Tal prática é questionada por alguns sacerdotes do Candomblé que asseguram ser de propriedade exclusiva o seu uso e manuseio. Dão como justificativa para tal posição, o fato de que na Umbanda não se cultua Orixá Africano e sim Falangeiros, e esses não precisariam da consulta ao Jogo de Búzios, já que têm outros métodos para orientar seus Filhos, como a vidência, por exemplo. Outros mais exaltados, chamam de “marmota” tal prática, pois aqueles que jogam Búzios na Umbanda não passaram pelos sete anos de preceitos e ensinamentos realizados no Candomblé. Outros ainda não admitem a prática do Jogo, numa religião que tem apenas sete ou nove Orixás, enquanto no Candomblé e por conseguinte no Jogo de Búzios, são dezesseis Orixás representados por 16 Odus .

As críticas ainda são maiores, quando o Jogo de Búzios é usado por Entidades incorporadas na Umbanda.

Essas críticas não são restritas apenas a alguns grupos do Candomblé. Muitos Umbandistas também não aceitam essa prática em seus Terreiros.

Diante de tal polêmica, respeitando opiniões adversas e com o único objetivo de esclarecer sobre essa prática em alguns Terreiros de Umbanda, que resolvi escrever estas linhas.

Começando pelo búzio (conchinha), que tem sua origem questionada por alguns historiadores. Enquanto alguns afirmam serem originários da África, outros atribuem sua origem ao continente médio-oriental, mais precisamente na Turquia (país euro-asiático que ocupa toda a península da Anatólia, no extremo ocidental da Ásia, e se estende pela Trácia Oriental também conhecida como Rumélia, no sudeste da Europa), única cidade do Mundo localizada entre dois continentes, e que teria chegado à África por conta das invasões daqueles povos aos africanos. E foi por muito tempo usado como moeda de troca.

Partindo do princípio que os búzios são conchinhas, moluscos e, portanto frutos da natureza, entendo que sejam propriedade da humanidade e não de uma determinada religião. O seu uso e manuseio será realizado de acordo com os costumes e conhecimentos do lugar e da cultura existente.

É preciso entender que não existe Jogo de Búzios na Umbanda como existe no Candomblé. São duas “receitas” diferentes para um mesmo produto. Na Umbanda, a caída dos búzios abertos e fechados representa a fala de um Caboclo, Preto Velho, Ibeijada, Boiadeiros, etc. Entidades estas, descendentes de Negros africanos e que com eles muito aprenderam sobre o Jogo de Búzios. Não encontrando no Candomblé espaço para dar suas manifestações, o fazem nos Terreiros de Umbanda. E assim, buscam difundir seus conhecimentos na intenção de eternizar aquilo que aprenderam, e que acreditam ser de grande valia para o progresso de seus Filhos e seguidores.

Quanto ao Pai ou Mãe no Santo que usam o Jogo de Búzios, quando incorporados, é pelo fato de se sentirem mais seguros e com maior firmeza para suas respostas e confirmações da vidência da Entidade incorporada. O médiun não vê o que a Entidade está vendo, ele recebe uma mensagem através de seu cérebro e precisa saber interpretar. Muitas vezes, por conta de estresse, cansaço ou até mesmo uma interferência negativa do consulente (sim, o consulente pode atrapalhar e muito, uma consulta. É preciso que a pessoa que está diante da Entidade, esteja com a inenção de ser ajudada e não com a intenção de receber adivinhações.), o médiun não consegue discernir com exatidão a mensagem que está recebendo. Com o Jogo de Búzios, esta vidência fica mais clara e se torna muito mais difícil para um quiumba manipular tal mensagem. Funciona assim, como um canal de concentração. Logo, é fácil entender que uma Entidade não usa o Jogo de Búzios como um oráculo, mas sim, como um instrumento de trabalho.

Para um médiun de Umbanda jogar os Búzios, ele também precisa receber vários fundamentos: amacis, camarinha, coroação etc. Ressalvando que Jogo de Búzios, não se aprende em Livros ou na Internet. É preciso ter o dom e muita dedicação para entender e decifrar as caídas dos búzios.

Relembrando: Jogo de Búzios no Candomblé é diferente do Jogo de Búzios na Umbanda. Não há o melhor ou o pior. Há aquele que melhor nos identificamos, enquanto consulentes. Já para manipular, é preciso preparo e permissão. E neste caso, vai depender de seguir os preceitos e fundamentos da religião escolhida.

Fonte de pesquisa:


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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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