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NÃO ME CHAMEM DE DIABO, EU SOU EXU!

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 30 de nov. de 2022


Na poesia de Mario Cravo, ele esclarece de maneira muito pertinente a figura do Exu: “disseram que eu era o diabo. Não sou diabo nem santo, sou Exu! Muito prazer! Não liguem pra que dizem ao meu respeito, tudo mentira! Quem pode me definir se sou a própria contradição? Nem bom nem ruim, nem quente nem frio, nem sombra nem luz! Mas não se engane, não sou meio-termo. Sou tudo e não sou nada! Ousadia é meu nome. Estou sempre pronto, pra luta ou pra farra. Experimentei o melhor da vida, e gostei! Se me disserem que é impossível, vou e faço. Se me pedir, eu dou. Se me agradecer, eu retribuo. Se me der, eu aceito. Se me negar, eu tomo. Aos meus, ensinei a rir da própria sorte, a ter esperança, a acreditar pra ver. Se a vida vai mal, sambo e esqueço. Se vai bem, sambo e festejo! Já te disse meu nome? Sou Exu! Muito prazer!”.

No Candomblé, exu é conhecido e cultuado como o senhor dos caminhos, o mensageiro dos Orixás, o dono da rua. Sua morada é na encruzilhada, lugar que representa dentro do simbolismo universal, o centro e o lugar de passagem entre os mundos dos homens e dos Orixás. E é exatamente dentro desse simbolismo, que Exu tem a missão de ligar o sagrado ao profano, sendo o Orixá da comunicação e o princípio dinâmico que rege a existência. Na Umbanda, Exu se manifesta através de seus falangeiros, os compadres. Entidades que trabalham sob a sua vibração.

As festas de rua, onde há muita gente, muita bebida e muita alegria, são as suas preferidas. Pois ali a vida está em grande movimento. Uns bebendo pra esquecer, outros pra festejar. Quantos namoros começam nessas festas... Quanta gente se conhece e se tornam grandes amigos... Quantos reencontros... brigas, discussões, reconciliações. Gente trabalhando pra garantir o pão de cada dia, outros gastando o que ganharam com o suor do seu trabalho. Assim é Exu!

Agradar a Exu é a certeza de proteção e êxito em qualquer trabalho nos Terreiros de Umbanda. É ele que conhece as nossas fraquezas e compreende como ninguém os nossos sentimentos. Está em cada um de nós. Vai na nossa frente nos livrando dos riscos e perigos.

O escritor Jorge Amado, conhecia Exu como poucos. E isso fica bem claro no romance Bahia de todos os Santos: “Postado nas encruzilhadas de todos os caminhos, escondido na meia-luz da aurora ou do crepúsculo, na barra da manhã, no cair da tarde, no escuro da noite, Exu guarda sua cidade bem-amada”.

A visão de bem e de mal é muito relativa, na visão de Exu. Pois o que é bom pra um, pode ser ruim para outro. E ainda, o mesmo fogo que ilumina, incendeia.

Exu desconhece o impossível, faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.

Existe um ditado iorubá que fala da capacidade de exu, em reinventar o passado: “Exu mata um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje”. Ou seja: quando Exu lança uma pedra por trás do ombro e mata o pássaro de ontem, ele nos ensina que podemos nos reinventar todos os dias, corrigindo os erros do passado e construindo um novo destino.

Esse é Exu!!!

Luiz de Miranda – Pai no Santo



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rhayrasilvaoliveira
rhayrasilvaoliveira
Oct 18, 2023

Lindo🖤

laroyê exu🎩


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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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