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CONSCIÊNCIA NEGRA NA UMBANDA

Foto do escritor: Luiz de MirandaLuiz de Miranda

Atualizado: 20 de nov. de 2024


Não há outra cor de consciência na Umbanda que não seja a negra. Pois falar em consciência negra é falar da luta e da resistência de seus ancestrais e antepassados, da coragem de uma raça que nunca quis ser superior, mas sim, respeitada e tratada com equidade.


O dia 20 de Novembro, dia em que se comemora a Consciência Negra, não é simplesmente um marco, é uma realidade, considerando que no Brasil mais de 50% da população se declara negra. E dentro dessa realidade ainda assistimos tristes relatos de racismo e violência indiscriminada contra os negros. Nunca foi fácil ser negro no Brasil, nunca foi fácil praticar a religião dos negros no Brasil. O dia da Consciência Negra não é uma homenagem, é um chamado para que todas as raças se conscientizem da importância dos negros na formação, crescimento e progresso do Brasil. É um chamado contra a intolerância, preconceito e violência que estão sujeitos a maioria dos negros no nosso país.


Nesse dia em particular, os médiuns de Umbanda buscam refletir sobre a importância de seus Pretos Velhos, Caboclos, Boiadeiros, Baianos, Ibejadas, Quilombolas, Malandros, Exus e Pombas Giras, na sustentação e resistência desses povos que por séculos foram perseguidos, torturados e marginalizados simplesmente por serem quem eram, por pertencerem a etnias diferentes da classe predominante, por não seguirem as normas e religião impostas por essa classe.


A Umbanda vem para resgatar a dignidade dessa gente e suas culturas. A Umbanda vem pra mostrar ao mundo que não somos todos iguais, e sim, que precisamos lutar para que sejamos tratados com equidade, e não igualdade. É preciso ser paciente como nossos Pretos Velhos, sem ser subserviente; é preciso ser bom como os Caboclos, sem ser ingênuo; é preciso ser forte como nossos Boiadeiros, sem ser violento; é preciso ser justo como nossos Baianos, sem ser vingativo; é preciso ser criança como nossas Ibejadas, sem ser infantil; é preciso defender nossa gente como os Quilombolas, sem ser intolerantes; é preciso ter jogo de cintura como nossos Malandros, sem ser trapaceiro; é preciso ir na frente como nossos Exus, abrindo caminhos para a verdade prevalecer; é preciso ter o empoderamento de nossas Pombagiras, sem ser arrogante...


Sigamos lutando e acreditando que um dia nosso país será verdadeiramente um país de todos!


A CONSCIÊNCIA NEGRA QUE HABITA EM MIM, SAÚDA A CONSCIÊNCIA NEGRA QUE HABITA EM VOCÊ: VALEU ZUMBI !!!

(por Luiz de Miranda – Pai No Santo)


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4 commenti

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Sueli Silva
Sueli Silva
20 nov 2024
Valutazione 5 stelle su 5.

Como sou feliz por tê-lo como Pai no Santo, como amigo que me ajuda a caminhar cada vez mais certa do caminho que escolhi. Que nosso Sagrado, nossa ancestralidade, continue a iluminá-lo e a inspirá-lo a escrever textos tão maravilhosos.

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Anderson Freire
Anderson Freire
20 nov 2024
Valutazione 5 stelle su 5.

Seguimos lutando!!! Nossa maior bandeira é a força, coragem e resistência!

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Fabio Seabra
Fabio Seabra
22 nov 2022

Querido Irmão;

Que Blog encantador e de extrama utilidade. Parabéns por teus sabares o por nos ilustrar. Precisamos divulgar mais. Como você escreve bem e com total clareza para o entendimento geral.

Parabens e obrigado por esse conteúd.

Fabio Seabra.

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Luiz de Miranda
Luiz de Miranda
23 nov 2022
Risposta a

Muito obrigado, querido irmão. Você não imagina o quanto é importante a sua opinião. Muito obrigado, mesmo!!

Que Pai Oxalá nos abençoe!!

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SUA FÉ É RESPEITADA?

          No ano de 1990, meses antes de perder sua irmã de 29 anos de idade para um adenocarcinoma no mediastino, o Pai no Santo passa por uma experiência extremamente desagradável e revoltante, que bem retrata o racismo religioso no Brasil. Isso aconteceu no Iaserj, um hospital para os servidores do Estado do Rio de Janeiro. Era por volta das dezesseis horas. Enquanto acompanhante da irmã, ele decide ir tomar café num bar próximo ao hospital e retorna vinte minutos depois. Tempo que foi suficiente para um pastor entrar no quarto e oferecer uma oração. Voltando então do seu café, ele encontra a irmã que já vinha extremamente debilitada por conta da doença, agora, com semblante ainda mais triste e constrangido. Ele então procura levar palavras de consolo e ânimo, ao que ela responde: “_ Meu irmão, por favor, não quero que esse tipo de religioso venha fazer oração pra mim.” Ele de imediato, pergunta:  “_ O que houve?” Ela então relata o ocorrido: “_ Quando você saiu para tomar seu café, um homem de terno se apresentou como pastor da igreja universal e me perguntou se podia fazer uma oração pra mim, Como ele parecia ser uma boa pessoa e foi muito educado, eu disse que sim. Ele fez a oração, pediu pela minha saúde, e em seguida me perguntou se eu aceitava Jesus Cristo como salvador, e eu respondi que sim. Ele então disse que a partir daquele momento eu estava curada. Só que ele então perguntou qual era minha religião, o que eu respondi, que era espírita. Então ele me disse que eu teria que renegar minha religião. Eu disse que não, jamais iria renegar minha fé. Daí ele falou que infelizmente o câncer voltaria e me levaria pros braços da morte. Eu disse a ele que preferia morrer, a ter que conviver com cristãos como ele. Não quero irmão, não quero esse tipo de gente fazendo oração pra mim.”

            Em outra ocasião, anos depois, o racismo e a intolerância religiosa voltam a atacar o Pai no Santo. Dessa vez, no Hospital Regional Darci Vargas, em Rio Bonito. Indo visitar um Filho de Santo na Unidade Intensiva, o Pai no Santo se depara com uma senhora que estava ao lado do leito de seu filho perguntando se podia fazer uma oração. Como o doente estava sob efeito de fortes medicamentos, não tinha condições de responder; o que fez com que a mulher iniciasse a sua oração. Em voz alta e de tom feroz, ela dizia: “ _ Em nome do Senhor Jesus eu expulso os demônios de Pombagira, Exu, Ogum e todos os demônios dos tambores, das encruzilhadas... .” quando então foi interrompida pelo Pai de Santo; gerando na mulher um comportamento agressivo e ameaçador. Dizia ela, agora em tom mais elevado de voz: “_ Você não pode querer calar a voz de uma ministra de Deus. Seus demônios serão jogados por terra... .” quando então o Pai no Santo pediu ao funcionário responsável pela vigilância da Unidade, que retirasse a mulher do ambiente. No que foi prontamente atendido.

            Esses são dois exemplos dos milhares de outros que acontecem todos os dias, atingindo seguidores das religiões de matriz afro-brasileira. E não é à toa, afinal, não faltam umbandistas que se silenciam diante de tais fatos, e como se não bastasse o silêncio, ainda permitem que seguidores de outras religiões lhes imponham sua fé como sendo superior as demais.

            O Umbandista de fato, sabe sua origem, conhece seus Santos, suas rezas, seus cantos e louvores. Não é de hoje que a Umbanda se livrou do peso do sincretismo, dos santos que nunca foram seus, dos ritos e rituais que nunca lhes pertenceram. O Umbandista de fato, sabe a quem recorrer nas horas de aflição e desespero, e não precisa que outro religioso venha em seu socorro para rezar ou orar. Sim, não precisa! Sabe por quê? Porque o Umbandista sabe que aquela pessoa não está oferecendo uma oração para aliviar teu sofrimento. De forma dissimulada, ela quer que o Umbandista negue sua religiosidade, abandone seus Guias e Orixás. Como pode uma pessoa que frequentemente está na igreja ouvindo e dando glórias a voz de um padre ou pastor, e que não mede palavras para demonizar a Umbanda, orar por quem é Umbandista? De que vale uma oração que sai da mesma boca que chama nossos Santos de demônios?

            O Umbandista de fato, sabe o poder de seus Santos, o sangue que derramaram, o suor sofrido e causticante ardendo na pele preta, o fogo impiedoso das fogueiras da inquisição, a lâmina cortante e afiada das guilhotinas. O Umbandista de fato, sabe que seus ancestrais e antepassados morreram para garantir a liberdade aos seus  descendentes. Trazidos à força e amontoados nos navios negreiros, chegam ao Brasil e são obrigados a se batizarem do lado de fora das Igrejas, porque de acordo com as interpretações bíblicas, o preto era um ser sem alma, amaldiçoado...

            Quando um Umbandista respeita outras manifestações religiosas, não quer dizer que ele tenha que se subjugar. Os Santos da Umbanda também têm suas histórias, sua cultura, suas bênçãos e seus poderes.

            Seu Orixá está vivo e pulsante em você. Não deixe que o matem!

                                                                                                   (Luiz de Miranda-Pai no Santo)

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